Vértices e Vertigens:
Arte e Formação Humana
2023





A arte, em seu prodigioso universo de possibilidades, modalidades e códigos, vem demonstrando desempenho progressivo na formação de crianças, jovens e adultos, seja no âmbito escolar ou em ambientes não formais de ensino e aprendizagem, pois não apenas favorece às habilidades cognitivas como fortalece a dimensão emocional fundamental aos percursos formativos.
Assim, à arte é intrínseca toda plataforma de expressão e criação de conhecimento. Compreendido, então, o seu papel como basilar nas realizações, representações e demais manifestações das culturas é indispensável frente aos desafios e questionamentos de normas sociais e políticas, por sua vez, indispensáveis à justiça social.
A obra de arte, observada na vertigem da história ou compreendida na agudeza do presente, entre tantas leituras e compreensões, permanece sendo a produção humana geradora do inédito e singular, mesmo quando se configura múltipla, serial e fragmentária, contudo, em trânsito direto para o horizonte da alteridade. Dentre todas as possibilidades de plasmar o impulso poético, a obra de arte quando inseparável da visualidade, proeminência desafiadora na contemporaneidade marcada pela intensidade do jogo visual para o qual as realidades se diluem e a imaginação ganha materialidade e enunciado.
A partir dessas considerações, compreendemos que a reflexão produtiva sobre o jogo estético implicado na arte e no que lhe é decorrente, ensino, produção, ambientes etc, convoca o escrutínio das dualidades e os interesses que lhes subjazem como as denominadas produções culturais outorgadas e as que lhes são polarizadas, as negadas pelas políticas hegemônicas. Alcançamos dentre outros oceanos conceituais revoltosos as radicalidades de toda sorte, das nostalgias estético políticas à tibieza dos efeitos das transgressões que no arrepio das validades solapam umas às outras. O que, no fim ou início de tudo, faz soçobrar ou triunfar a imagem, como simulacro, vicissitude ou redenção. A sofisticação e popularização das plataformas de inteligência artificial e os efeitos de suas possibilidades ameaçam a criação intelectual, dominam a produção material e inevitavelmente desafiam a arte. Incontornável interferência desde a crescente substituição da ação humana pela ação cibernética no mundo do trabalho até a contaminação dos sistemas utilizados na formação escolar e em outros meios de aprendizado.
Não se pode ainda mapear ou aferir o grau de interferência que os desafios contemporâneos, do trânsito vertiginoso das imagens visuais às práticas das inteligências artificiais, terão nas sociedades, mas podemos prever desde já que não é através da privação do uso e de seu acesso, que se poderá garantir a eficácia no processo de ensino e aprendizado ou nas iniciativas de equidade e justiça social.
Antes da pandemia de Covid-19 no mundo, smartphones e tablets eram vistos, senão como inimigos, com cautela e reserva em grande parte das escolas do planeta. Até que, de repente, por extrema contingência planetária, se mostraram como o único lugar seguro para o encontro e a reunião de pessoas, tendo fundado, inclusive, uma nova lógica de ensino e aprendizado, obrigando todos nós a romper com preconceitos e reservas frente às tecnologias de informação e comunicação.
Assim como a inventividade técnica socorreu incontáveis processos de trabalho e formação, as Inteligências artificiais evidenciaram sua utilidade também na produção de obras de arte, criadas, expostas e comercializadas na rede por meio de moedas que também só existem e circulam na virtualidade, as chamadas criptomoedas. Esses breves relatos buscam apontar a dimensão da profusão de novidades que emergem no cerne dos questionamentos ainda humanos. Um dos principais deles parece ser sobre a substituição dos seres humanos pelas máquinas, dispositivos especulares da própria humanidade que os criam e por estes se sente dispensada. Ameaça já enunciada na própria arte, nos primórdios do cinema e na literatura do século 19, é revigorada no tratado postulado pela virada do milênio, que agora parece estar em curso inimaginavelmente célere e dramaticamente ininterrompível. Apostando no encontro das reflexões, em seus contrastes e perspectivas, não apresentamos "dados científicos" a respeito dos temas apontados, nem buscamos uma plataforma conceitual segura alicerçada em respostas finais aos questionamentos decorrentes da reunião de pensamentos que aqui seguirão. O que pretendemos, ao reunir os autores, é reafirmar nosso comprometimento com o presente, com a possibilidade de intervenção no agora, do olho no olho, sangue, suor e gozo.
A experiência continua sendo o caminho que acreditamos ser o mais efetivo e atual para a formação humana, dos encontros convencionais com a obra de arte nos espaços físicos museais, nas derivas urbanas face às suas prodigiosas estéticas desautorizadas ao diálogo com a inteligência artificial em uma micro tela, atravessando a existência de professores, educadores e artistas interessados e implicados nas vértices de um caminho que só pode ser trilhado de forma vertiginosa, ainda que, em muitos momentos, provoque, em nós e no outro, vertigens a partir da aventura dos encontros.
- Aldo Victorio Filho e Nathan Braga Motta de Paula
Apresentação
Aldo Victorio Filho
Aline Macedo
Breno Felipe A. de Oliveira Gomes
Denise Espírito Santo
Érika Lemos Pereira
Geisa Giraldez
Isabel Carneiro
Jacqueline de M. Siano
Julia Cavazzini
Luis Otávio Oliveira
Mariana Pêgas Costa
Nathan Braga Motta de Paula
Paula de Vasconcellos Sophia
Pâmela Souza
Rodrigo Torres do Nascimento
Shion L.
Victor Junger Silveira
Autores






