Os intercâmbios e parcerias entre as instituições universidade e escola vêm, de longa data, formalmente centrados nos estágios curriculares, mas só recentemente foram contemplados com investimentos públicos que buscam assegurar objetivamente a am-pliação e o aprofundamento da troca de experiências e aprendizagens entre licenciandos e professores do ensino básico em ambos os ambientes institucionais.

​Embora tais iniciativas, como o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, decorrente da Política Nacional de Formação de Professores, instituído em 2009 e mais recentemente o programa Residência Pedagógica lançado pela Capes em março de 2018, alcancem apenas uma fração ainda pequena dos estudantes dos cursos de Licenciatura, permitiram, sobretudo o PIBID desde 2012, conhecer e considerar a relevância de muitos aspectos e formas de produção de saberes que recheiam o em nada repetitivo cotidiano escolar. Estimulada a exploração dos canais abertos pelo programa em benefício das diversas áreas de forma-ção docente, aqui, especificamente, a das Artes, a pesquisa, lança mão de variados meios investigativos para conhecer de forma colaborativa o que não é suficientemente sabido a respeito dos ambientes escolares e suas possibilidades epistêmicas e formati-vas.  Entendidos tais ambientes como um somatório de atravessamentos constantemente renovado pelo que lhes aportam diariamente gerações de estudantes e mestres.

Os meios aludidos são as pesquisas inter-relacionadas abrigadas  no Laboratório de Ensino da Arte, a saber, pesquisas de trabalho final de conclusão do curso de licenciatura em Artes Visuais, pesquisas de iniciação científica, iniciação à docência, pesquisas de mestrado e de doutorado de orientandos dos programas de pós-graduação em Artes (PPGARTES) e de Educação  (PROPED) da UERJ - dos quais o autor deste projeto é docente - e também projetos de PIBID e Residência Pedagógica. O campo da pesquisa é assim constituído pelo enredamento dos cotidianos escolares e universitários dedicados à formação docente em Artes e investigado com o auxílio da sistematização das diversas pesquisas do Laboratório voltadas para o inter-câmbio dos meios formativos decorrentes da aproximação e convívio entre a universidade e as escolas. O projeto de pesquisa tem, portanto, como elemento central os trânsitos de saberes e experiências nos canais de acesso mútuo escola-universidade-escola. Como conexões, consideramos a sintonia possível entre o interesse científico e as realizações cotidianas que constituem o currículo praticado, ou seja, o que sabem, criam e aspiram as professoras das escolas, os seus alunos e os licenciandos. Tais aspirações contribuirão para o desenho das etapas investigativas.

Um dos pressupostos que orientam a condução da pesquisa é o reconhecimento da professora do ensino básico como agente cria-dora de saberes, produção que se dá cotidianamente e que envolve redes de relações entre colegas de profissão, experiências par-tilhadas, vivências pessoais, comunitárias, identificações diversas de ordens cultural, social, epistêmica e técnica. Portanto, se compreende que tal manancial de realizações, envolvido com aspirações e expectativas, surge como indispensável à formação docente sintonizada com o presente e com a projeção de necessidades futuras do universo escolar. Por outro lado, embora considerado que a produção acadêmica, ainda sob muitos aspectos, distante e até impermeável às realida-des da vida escolar, é útil e sempre oportuna ao adensamento das práticas e dos êxitos escolares. No campo específico da pesquisa em Educação, as escolas, como área de investigação, se destacam como fonte epistêmica e lócus de catalisação de conhecimentos sobre as condições sociais e culturais de suas populações e localidades. Ir à escola, sob tal perspectiva, é aprender, sejam estudantes, professoras ou investigadoras, seja em ações voltadas para qualquer das dimensões apontadas.